No famoso filme Karatê Kid, há uma cena icônica em que o mestre pede ao aluno para repetir movimentos simples, como “tirar o casaco, colocar o casaco”. Da mesma forma, ele também encerava o chão e o carro. No início, o aluno murmurava, sem compreender o propósito dessas ações. Mas, com o tempo, percebeu que cada movimento fazia parte de um aprendizado maior, preparando-o para algo muito mais significativo.
No Pró Vida, não é diferente. Muitos acolhidos, no início, não compreendem o sentido de certas atividades inclusivas e murmuram diante das orientações sobre o cuidado com o entorno, o autocuidado e a atenção ao próximo. Alguns acreditam que, se deixarem de fazer essas tarefas, o Pró Vida se tornará uma bagunça, enquanto outros pensam que o esforço deve ser recompensado de alguma forma. Mas, na verdade, essas atividades não são castigos ou obrigações sem sentido; elas são parte essencial do processo de transformação.
Quando estavam em situação de uso, não percebiam a desordem ao redor. Muitos invadiam casas abandonadas, movidos apenas pelo desespero de consumir a droga, sem se importar com o autocuidado ou com o ambiente onde estavam. As notícias frequentemente alertam sobre os riscos da dengue, da sujeira, da falta de higiene, mas, naquele momento, essas preocupações pareciam distantes.
A cidadania não se resume apenas a direitos; ela também envolve deveres. Pequenos gestos, como cuidar do jardim, arrumar a cama, organizar as roupas, manter a higiene pessoal, estudar e participar dos grupos terapêuticos, não são tarefas insignificantes. Elas preparam para a vida, para o retorno à sociedade, para a construção de uma nova história.
Assim como no Karatê Kid, o verdadeiro aprendizado acontece no processo. O cuidado diário ensina disciplina, responsabilidade e pertencimento. No início, pode parecer sem sentido, mas, com o tempo, cada atitude se torna um pilar para uma vida nova e plena.